Nos tempos de faculdade
(cursei moda na FASM) frequentei muitos desfiles de moda atrás de inspirações. Com o tempo, e já
estilista, passei a frequentá-los
profissionalmente, participando dos backstages e conhecendo todos os passos dessas produções que aos poucos se
tornaram verdadeiros espetáculos.
Perdi a conta de quantos já
fui.
Desde o extinto concurso Smirnoff
Awards, que revelava novos talentos, ao precursor Morumbi Fashion, depois transformado
em SPFW. Enfim, desfiles não faltam em meu currículo.
Vi a Gisele, vesti a Gisele,
assim como todas suas colegas “angels” da Victoria Secret. Conheci stylists
(profissão nova na época), figurinistas, dj’s, acessoras de imprensa e todo o
circo armado para essas megaproduções.
Presenciei a palhaçada que
rola para garantir um lugar na primeira fila , que deveria ser para formadores
de opinião, mas que aos poucos foram substituídos por celebridades and wanna
be’s.
A partir desse momento
percebi que a grande maioria das pessoas que frequentavam esses desfiles frequentavam
para verem e serem vistos. Mas para verem o que? As celebridades e uber models,
oras! Pelo menos era isso que eu via. Conto nos dedos os desfiles que fui onde
o que reinaram foram as criações dos estilistas, que deveriam ser a estrela
principal. Nem menciono os estilistas, que na maioria das vezes eram escondidos
no backstage sendo substituídos pelos donos das grandes marcas, que fingiam ser
os verdadeiros criadores por mera questões egocêntricas.
Quanto as coleções que me
chamaram a atenção por sua beleza e criatividade, conto nos dedos as que vi , e
não me esqueci.
Walter Rodrigues foi um
desses. Tive a sorte de trabalhar com ele e pude ver de perto a essência de um
estilista de verdade. Em seus desfiless, me encantava e me inspirava com suas
inspirações nipônicas e bom gosto na medida certa. Modelagem, corte e cartela
de cores impecáveis. Clô Orozco da extinta Huis Clôs era outra que me inspirava
com suas formas e estilo minimalista.
Sim, sei que tudo já foi
inventado (e já saí da faculdade sabendo disso), mas também sei que hoje
dependemos das releituras do que já foi criado. Releituras, seriam peças nas
quais os designers se inspiraram para então as recriarem sobre um outro olhar.
Neste olhar estaria embutido o seu estilo próprio, dando uma cara nova á peça deixando-a com a cara do estilista.
Quando percebi que nada mais
me interessava nessas passarelas, abandonei-as.
Não que eu tenha deixado de
gostar do assunto pois ainda sou apaixonada por moda e criação. Simplesmente
percebi que no Brasil os valores estavam completamente invertidos. Deixei de acompanhar esses desfiles de egos para encontrar inspirações em outros lugares.
Muito raro um bom estilista
ser um bom administrador. Simplesmente pelo fato de arte e dinheiro não se
misturarem.Por isso,os bons se foram.
Ora desistiram por falta de
e$tímulo, ora faliram mesmo. Alguns venderam suas marcas, perderam seus nomes e
passaram a criar copos de requeijão e band-aid (vide Herchcovitch/Isabela Capetto) e mini coleções
para grandes magazines. Marcas foram vendidas e queimadas.
E não pense que é só no
Brasil não. Há anos não vejo um estilista com estilo despontar.E não é que eu esteja alienada.Acabo de voltar de uma mini-temporada em NY, onde não vi absolutamente nenhuma novidade.
Cadê o novo Issey Miyake com
uns plissados repaginados? A nova Rei Kawakubo inovando nas formas e desconstruindo tudo o que já foi construído? Um novo
Galliano transformando Versailles em seu reino novamente? Mas que este não seja
tão idiota quanto o nosso, acabando sua carreira com comentários racistas de
péssimo gosto.
Issey Miyake-pleats please!
Rei Kawakubo para Comme des Garçons
John Galliano em seu tempos áureos na maison Dior
Existir sei que existem. O
que falta mesmo são oportunidades, essas cada vez mais raras em tempos de
fast-fashion engolindo o mercado vendendo roupitchas de péssima qualidade
feitas por escravos em pleno século XXI.
Muito triste.